Juliano escondendo os olhos azuis do flash. Foto: Paula Izabela. |
Quem me conhece há mais tempo sabe que meu currículo de “Paulinha Alisa Gato” (apelido que meus tios colocaram durante minha infância) se divide em a.J. e d.J, ou seja, antes e depois de um gato muito maluquinho, mistura de Dennis Pimentinha com Connor MacLeod (do filme, Highlander).
Depois do desaparecimento
de Ferinha aos 13 anos, eu bati o pé que não criaria outro gato. Dois anos
depois minha sobrinha deixou escapar que mamãe me daria um siamês de presente.
Mandei o recado que não queria saber de siamês, mas se fosse um gato amarelo
tigrado... poderia até ser. No meu aniversário de 30 anos, mamãe me deu Juliano
– já chegou aqui com esse nome ridículo, para um gato. Não mudei para que não
ficasse bipolar. Foi pior: virou trombadinha, só falta entrar pro crime organizado
para ser fichado na Federal – semana passada foi fichado na Polícia Civil
(sic!).
Juliano não é um gato
brasileiro com 7 vidas ou com 9, como dizem os norte-americanos. Juli é uma
águia fênix que sempre ressurge das próprias cinzas, mesmo depois de ter
perdido bico, penas e garras. No Orkut Juli teve a comunidade “Juliano: gato de
mil vidas”. Muitos foram os adeptos diante de seu histórico de doenças crônicas
(moribundo desenganado pelos veterinários) e sumiços (constantes e demorados). E
quem diria... Juli sobreviveu e o Orkut morreu!
Em vista do mundo não ter
acabado em 2012, Juli resolveu seguir o exemplo de Ferris Bueller’s: curtir a
vida adoidado em 2013. Sumiu logo após o Réveillon por 29 longos dias que nos
fizeram acreditar em sua partida mais que definitiva. De modo que entre
lágrimas escrevi sua crônica fúnebre para o blog: Juli: entre o nada e o sempre. Gastei minhas
lágrimas e meu teclado com defunto-vivo que reapareceu inteirinho depois de muitas
orgias felinas.
Ao longo de 2013 pequenos
sumiços rotineiros, internações ainda mais rotineiras – pelo amor de Deus
inventem uma Unimed para gatos! – algumas sarnas e muita medicação. Foi quando
se deu o sucesso...
AVENTURA Nº 1 MILHÃO E 4
PATAS:
INVASÃO DE DOMICÍLIO!
23/nov/sab: Juliano sumiu
de novo? [eu]
24/nov/dom: Tia, a senhora
viu Juliano hoje? [minha sobrinha]
25/nov/seg: Onde foi que
esse cachorro se meteu? [mamãe]
26/nov/ter: O gato faz uma
falta, né? [papai]
27/nov/qua: A vizinha de
baixo disse que tem um gato miando há dias no apartamento das estudantes.
[minha mãe]
28/nov/qui: Juli, seu
cachorro! As meninas viajaram de férias. Que diabo tu foi fazer aí, gato doido?
[eu, em cima de uma escada na calçada, jogando ração e água pela ventilação do
portão principal]
29/nov/sex: Moça, quero um
BO para os bombeiros entrarem num imóvel fechado a fim de resgatarem meu gato. [eu,
envergonhada]
30/nov/sab: Os bombeiros
me pediram uma ordem judicial, além do BO. Demora quanto tempo para ser
liberada? Quatro meses?! [eu, ligando pro advogado]
01/dez/dom: Ah, vocês têm
o número da mãe das estudantes no Pernambuco? Graças a Deus! [eu, aliviada]
02/dez/seg: Eu não sei
como ele entrou. Só sei que ele está lá. Alô... Alô! Dona Zélia, a senhora está
me ouvindo? Alôôô... [eu, angustiada]
03/dez/ter: Juliano, a
mulher disse que só vem no Ceará semana que vem. Aguenta aí! Você que é culpado
por essa situação! [eu: sermão de mãe]
04/dez/qua: Juli, coma a
ração! Deixe de choro! [mãe de gato impaciente]
05/dez/qui, hoje:
[Minha mãe] Acorda,
acorda, Izabela! A vizinha disse que Juliano passou a noite miando bem
fraquinho.
[Eu no portão] Juli? Juuuuuuliiii...
Chaninho... Juliano... JULI!!!!!
[Minha sobrinha] Será que
ele morreu, tia?
[Eu, gritando] JULI, MIA,
POR FAVOR! JULI!
[Minha mãe] Tallyta, liga pra
Seu Feitosa. Ele tem um chaveiro de confiança!
[Minha sobrinha] Tô sem
crédito e sem bônus.
[Eu, aos berros] JULI,
PELO AMOR DE DEUS, MIAAAA!
[Minha mãe] Nosso telefone
está mudo.
[Eu, contendo as lágrimas]
Ligue do meu! Ligue looogoooo!
[Oi] Você não tem crédito para
completar essa chamada...
[Tim] Sua chamada está sendo
encaminhada para a caixa de mensagens...
#Pânico! #Terror!
#Aflição!
[Seu Feitosa] Chego já aí
com o chaveiro!
#Umséculo...
#Doisséculos... #Trêsseculos... Meio-dia!!!
[Chaveiro] Vocês têm
autorização da dona para abrir a porta da varanda?
[Coro aflito] Temos!
[Minha mãe] A avó delas já
ficou trancada aí e precisou pular nossa varanda também.
[Minha sobrinha] E as
meninas são legais...
[Eu, contendo as lágrimas]
Liguei, não atendeu. Mandei sms.
1º susto: o chaveiro abriu
a fechadura com um arame.
2º susto: um ferrolho por
dentro.
3º susto: com um ferro e a
ajuda de um espelho puxou-se o ferrolho.
Pausa para mais pânico,
mais terror e mais aflição: quer dizer que com um arame, um ferro e um
espelho... qualquer um abre minha casa?
[Minha mãe] Chaneeee... Tallyta,
chama ele!
[Seu Feitosa] Já estava
cheirando mal assim antes?
[Chaveiro] Pelo fedor...
deve ter morrido ontem.
Eu saio chorando pro meu
quarto, zonza, tropeçando na escada, celular na mão, tento a agenda das últimas
ligações. Sil atende.
[Eu, aos prantos] Sil, ele
morreu!
[Noiva de Juliano] Quem é
que está falando?
[Eu, aos prantos] Teu
noivo morreu, Sil!
[Noiva e viúva] O quê? Meu
Juli? Deus do céu! Vou aí! Chego já!
Tomo um calmante. Ligo pro
veterinário, para a clínica, para a Sociedade Protetora dos Animais... Horário
de almoço, só recado e recado e recado.
[Minha mãe chorando] Izabela,
ele não saiu. Deve estar morto.
[Eu, aos gritos]
Nãooooo!!! Juuuulliii, não!!!
[Minha sobrinha chorando]
Tia, vamos procurar... Eu vou com a senhora.
[Eu, aos prantos] Eu não
consiiiiiigooooo!
[Minha mãe se fazendo de
durona] Izabela, os homens já foram. A gente tem que tirar o gato de lá para
não apodrecer a casa alheia.
[Eu, aos gritos]
Nãooooo!!! Eu quero Julianoooo vivoooo!!!
[Minha sobrinha chorando]
Vó, deixa ela aí. A gente vai buscar ele.
Caleidoscópico de imagens.
Marcelino, gordo e felpudo, nos meus braços. Morto. Papai chorando. Branquinha
cavando a covinha para desenterrá-lo. Cheiro de morte.
[Minha sobrinha aos gritos]
Tia, ele sumiu! Tá lá não, tia! Juliano fugiu!
[Eu, abestalhada] Juliano
o quê? Sumiu como?
[Minha mãe já irritada] O
fedor eram duas caixas. Ele fez xixi numa caixa de livros e cocô numa caixa de
sapatos.
[Noiva liga] Paula, não
vai dar pra ir aí agora. Não me liberaram...
[Eu, indignada] Sil, Juli
fugiu.
[Noiva enganada] O quê? Como
é que um gato foge depois de morto?
Explico a situação por
telefone a Sil. Mamãe e Tallyta voltam para uma nova busca. Eu tomo mais água
para não tomar outro calmante. Tiro o vestido, procuro um short, me preparar
para também pular a varanda – assim quando forem prender a família buscapé levarão
todos.
[Minha sobrinha aos gritos
de longe] TIAAA!!! VOVÓ ACHOU!!! AQUI ELE!!!
Dor no meu coração.
Juliano morto nos braços de Tallyta...
[Minha sobrinha chegando aos
gritos] TÁ VIVOOO, TIA!!! JULI TÁ VIVO!!!
[Eu, correndo de calcinha
e sutiã pela casa, portão da rua escancarado] VIVOOO???
Juliano esquelético, com a
cara de lesado de sempre, o olhão azul esbugalhado, nos braços de Tallyta que
voava em minha direção. Corrida ágil que demorou uma eternidade para me
encontrar.
[Eu, totalmente
descontrolada] Juli, pelo amor de Deus... Não faça isso de novo! Juli, não faça
outra dessa nunca mais! Juli, você quer me matar?
Sentei no chão com Juliano
nos braços, banhando a febre dele com minhas lágrimas. Chorei semanas, meses,
anos, séculos de preocupação, de impotência, de desespero.
[Eu, chorando aliviada]
Nunca mais apronte outra dessa, Juli! Foi a última, ouviu?
Sem noção do tempo, não
sei quantos minutos demorei para perceber que seria a última mesmo se ele não fosse
medicado. Quando me dei conta que o gato estava muito mal e precisava ser
socorrido com urgência, recomeçou o frenesi. Liga pro táxi! Liga pro
veterinário! Traz uma seringa com água filtrada! Traz a toalha dele! Cadê a
carteirinha da clínica? Mamãe e Tallyta correndo de um lado pro outro.
[Eu, dando bronca e
chorando] Juliano, se você aprontar outra dessas, você vai morrer lá! Tá
ouvindo, seu cachorro? Ninguém vai buscar você de novo! Você acha engraçado
arrombar as casas dos outros? Acha bonito? Você quer que eu vá pra cadeia por
sua causa?
Diagnóstico: uma
super-hiper-ultra-desidratação.
Medicação: antitérmico e
vitaminas.
Castigo: ficar internado
na clínica até o final da semana, tomando soro.
Promessa: mamãe rezou um terço para as almas porque Juli escapou.
Promessa: mamãe rezou um terço para as almas porque Juli escapou.
Moral da história: A
curiosidade (quase) matou o gato!
Dúvida que não quer calar:
FEBEM resolve?
| 2013 |
Izabela,
ResponderExcluirVocê me fez rir e chorar e rir novamente, um sorriso de "Graças a Deus".
Senti seu desespero e seu alívio. Realmente, o Juli é um gato fora da lei e pelo o que já passaram vejo que ele têm uma missão longa viu! Unir cada vez mais essa família linda que Deus te deu.
Sabrina Lima