Adaptação do roteiro teatral homônimo escrito entre 1991/1992.
Os primeiros raios solares iluminavam o imenso jardim do edifício de cinco andares na Rua das Orquídeas.
– Desabrochei belíssima neste jardim, pois a Primavera está pressurosa e os jardins desde o romper da aurora estão repleto de flores. Vou me identificar, pois deveis saber que eu sou a Rosa. A minha presença é imprescindível, pois ostento a magnitude da natureza. As outras flores aqui não virão, pois só a mim compete a honra de prestigiar esta estação grandiosa. Um momento... Quem desabrocha aqui? Quem será que ousa interromper a majestática Rainha das Flores?
– Oh, que desastre! Desabrochei tão distraída que não saudei a insigne e excelsa Rainha das Flores.
– O que fazes aqui, florzinha intrometida?
– Magnificente, eu não podia faltar a esta brilhante estação.
– Ora essa, inconveniente Saudade! Tu não podias deixar de comparecer?
– Invulnerável Rainha, não seja tão intransigente! O que eu digo é mais do que certo e outras flores aqui virão para apresentar suas cores.
– O meu valor nenhuma tem!
– Saudade, onde estás? Já desabrochastes e me esquecestes?
– Aqui estou flor mimosa! Vem sem demora que eu te espero.
– Ousada! Você ainda convida outra invasora para infestar o meu jardim?
– Esta é a minha inestimável amiga, a formosa Margarida.
– Eu te saúdo, inigualável Rainha! Bom dia, gentil companheira!
– Flores! Flores! Estou aqui embaixo...
– Violeta! Custou, mas veio.
– Ah, queridinhas! Nem sempre...
– Não gosto e nem posso ser a primeira, por isso só agora vim prestar minha homenagem a nossa estimada Primavera. No entanto, não sou digna desse feito; me despeço e me retiro para o meio das folhagens.
– Já vai tarde, florzinha inútil.
– Não falei contigo, Margarida abelhuda!
– Calma, calma, extraordinária Rainha! Compreenda que cada qual nesse dia quer apresentar-se em público para expressar seu contentamento.
– Flores, retirem-se daqui! As suas presenças vulgares atrapalham o esplendor desse jardim. A Primavera não pode ser privilegiada por flores tão ordinárias. Uma figura tão notável merece ser homenageada por alguém da ilustre realeza, assim como eu. Ordeno que...
Antes que a Rosa terminasse a sentença, sentiu uma mão feminina a recolhê-la cuidadosamente.
– Droga! Me furei... – em vão a Rainha tentou defender-se.
A jovem faxineira depositou sobre a escrivaninha de mogno um estreito vaso, onde resplandecia uma aveludada rosa vermelha. Com esse singelo gesto esperava despertar a atenção (ou ainda, o afeto) do advogado que ocupava aquele escritório.
– Você já terminou? A minha cliente chegou. Vou precisar da sala agora.
– Sim, doutor, por hoje é só – respondeu docemente.
– A senhora deseja tomar alguma coisa?
– Sim. Aceito um cafezinho com adoçante.
– Ouviu isso? Peça para Margarida nos trazer uma bandeja com café, adoçante e uns bolinhos.
– Sim, senhor. Com licença – Violeta retirou-se fechando a porta.
– E esse lindo vaso aqui? Foi idéia sua, querido?
– Lógico, Rosa – estendeu o rubro vegetal à cliente recém-divorciada – para você, minha rainha.
2005
Viver a personagem "Rainha das Flores" três vezes no Teatro (sendo uma delas no show do Pe. Antônio Maria - o da Mãe Rainha Três Vezes Admirável de Schoenstatt) foi uma das experiências mais gratificantes de toda minha vida. Escrever o roteiro (adaptação de uma peça anônima apresentada pelas normalistas décadas antes), atuar ao lado de grandes amigos (Andréa, Fabiane, Marcelo, Mírian e Rose), ralar durante meses para montar o figurino perfeito juntando o dinheiro da mesada, perturbar Deus e o mundo para conseguir montar o cenário... NÃO TEM PREÇO. Para o resto existem os cartões de crédito, eu sei (risos).
ResponderExcluirAGRADEÇO A SUA VISITA!