À Nagella Bennet.
– Ei, dona! Quer comprar passe?
Ignorei a voz atrás de mim e subi no coletivo.
– Ei, mulher do livro!
Olhei por cima do ombro, mas antes que respondesse, um grandalhão
atropelou-me pulando para fora do veículo. Observei o garoto franzino vender
seus últimos passes para aquele loiro exalando conhaque. Era o simpático
vendedor da sexta-feira. Eu jamais confundiria aqueles traços indígenas. Na
semana anterior, o indiozinho entrara no ônibus oferecendo cigarros. Depois
sentou ao meu lado interrompendo minha vagueação.
– Dona, me compra um cigarro!
Não o fitei, apenas acenei negativamente.
– Tem certeza que não vai querer cigarro hoje?
Sempre olho pela janela para não enjoar. Voltei-me irritada, mas
contive minha descompostura quando o meu olhar foi amortecido pelo negrume
alegre do seu. Dentes cintilavam num sorriso afável e receptivo. Correspondi ao
sorriso me rendendo ao seu carisma.
– Parei de fumar, de beber, de cheirar e de mentir.
– O que é que a senhora faz, então?
Logo comigo que odeio responder pergunta de criança.
– Trabalho.
– Lá alguém fuma?
– Uhum.
– Pois compra cigarro
pra eles!
| 2006 |
Este conto tem umas pitadas de memorialismo. Foi um dos últimos escritos para a Oficina "A Arte de Narrar", ministrado no SENAC Crato durante a Mostra SESC de 2006. Tive o prazer de ser aluna da bela escritora IEDA MAGRI e de conhecer amigos incríveis: a atriz SORAIA, o ator EDGLÊ, o diretor teatral FERNANDO, o dançarino ÂNGELO e a profa. DAIANE.
ResponderExcluirCom eles aprendi que ESCREVER é muito divertido :-P