Monalisa ensaiava no
espelho seus enigmas, nas últimas luas tudo era o nada a que se opunha. Muitas
foram as fases passadas sem que o Monte de Vênus fosse revisitado. Quase todos
seguiam rumo ao arco-íris, enquanto os armários eram esvaziados.
Mulheres caririenses
eram massacradas e assassinadas impunemente, fosse por ter companheiro ou até
por não tê-lo, por tiros ou por pedradas, por ciúmes ou por inveja, por
latrocínio ou por passatempo.
Pesadelos com roteiros
de longas de terror prenunciavam que ninguém era completamente inocente naquela
galáxia: a máfia csestina, o suserano estelionatário, o espanhol saqueador, o gesseiro
corrupto, o vizinho assaltante, a historiadora invejosa, o motorista assassino,
o farmacêutico fraudulento e o advogado esquizofrênico.
Na manhã de sexta-feira,
o quarteto Metralha invadiu Tathiany e a bibliotecária foi morta por um tiro na
testa quando seu patrão reagiu ao assalto. Kyara era uma jovem de 24 anos que tratava
as bijuterias como enfeites de estantes – aqueles retângulos coloridos quase
nunca lidos.
O almoço feriante foi
interrompido por um telefonema esclarecedor: in cesto ao felino que gritava para dentro, dilacerassem os
aleijados em cadeiras de rodas e quem estava no fundo do poço parasse de cavar.
Os telefonemas que se sucederam para clínicas, hospitais e até inimigos eram
ainda mais cruéis: só há salvação para os jovens.
Até a caravana passar nem
o expediente após o almoço durou para sempre. Os PHDs em desilusões amorosas
foram ao Sarau da Independência investigar
o terrível mistério do vestido que verteu sangue. William descobriu a razão: o
inferno estava vazio e os demônios estavam soltos por toda parte.
Na hora do Angelus, a florista
irrompeu um grito:
– Quem acendeu aquela
vela nos pés de Santo Antônio?
– Nós estávamos na
internet vendo Rodrigo Santoro discutir africanidades – responderam em coro as
caboclinhas.
– Eu nem voltei para
Ítaca – se defendeu Ulisses antes de escarrar no chão.
– Naum – grunhiu a feiticeira
branca do alto do seu trono suspenso no ar.
– Branquinha, você não é
gente como a gente! Nós é que somos tão animais quanto você – Ariano sentenciou.
Olharam-se como
cúmplices de um crime ainda prestes a ser cometido. Aquela chama ululante
perfumava a casa com o odor dos velórios de nunca mais.
Um coração necrosado
parava de pulsar quando o sino da Igreja de Santo Antônio soou em Barbalha.
– São as doze badaladas
noturnas – observou a caboclinha mais velha. – Então, quem acendeu a vela foi
uma alma do reino da gulória.
– Agora que você disse
isso terá que ir comigo ao banheiro. Não quero que Chucky me veja fazendo o
número dois – dizendo isso a caboclinha mais nova começou a chorar pela parede
infiltrada.
– Você não é chorona,
você é uma TPM ininterrupta.
| 2011 |
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Caro visitante...
Se tiver dúvidas no preenchimento dos campos, selecione a opção "anônimo" e assine no final (nome, cidade e estado).
Seu comentário será moderado e aprovado (ou não, no caso de spam) através do meu e-mail pessoal.
Sua participação é muito importante para a continuidade do meu trabalho.
Grata pela colaboração despenteada!
Paula Izabela