In memorian
Chegada: 10.07.2009
Partida: 01.07.2011
Nossa última foto tirada por Tallyta Paula na madrugada. |
Se mamãe chorar
chorar
chorar
chorar
chorar
por dias e noites,
você fica curado, meu amor?
Fala pra mim que esse dodói vai sarar.
Com seu corpo em meus braços
senti o amargo da minha inutilidade.
Prometi que após sepultá-lo
escreveria um poema lindo:
Marcelindo!
A você essa prosa em versos,
pois não sei rimar:
beleza com tristeza,
soro com choro,
forte com morte,
amor com dor.
Quando Ferinha Motorzinho desapareceu
jurei proteger meu coração desse pesar.
Três anos depois lhe encontrei na clínica
(naquela mesma sala onde você me deixou),
desisti de dá-lo de presente
e trouxe-o para casa
sob o nome de Marcelino
em homenagem ao meu amigo veterinário.
Papai estava certíssimo
ao lhe apelidar de amarelim safadim.
Você é safado mesmo!
Muito, muitíssimo.
Não me avisou que estava doente,
orgulhoso igual ao seu vô,
só pediu ajuda tarde demais.
Como meu pai suportará sua ausência?
Não terá seu mascote inseparável,
passinhos e trinados atrás dele,
soneca sob o chinelão embaixo da rede.
Você não trará lixo da rua para brincar,
não empurrará a ração com o focinho,
não manterá corujas como reféns,
não esconderá as chaves do vizinho,
não subirá nas árvores da rua,
não se clamufará na jardineira amarela:
– Tom sobre tom!
A quem perguntar pelo bichano da calçada
direi que agora está no quintal
num cantinho estratégico:
ao lado da gruta da Imaculada,
próximo da ração e da namorada siamesa.
De verdade não sei onde você está,
quero que esteja em um lugar melhor.
Não sei se acordará logo,
se mandará um pombo-correio
com um cartão-postal do paraíso
contando o que tem feito de bom.
Quem lhe irrita com flashes aí?
Quem alisa seu pelo inversamente
para lhe provocar?
Quem lhe conhece tão bem
a ponto de saber do fio preto no seu bigode?
Um único fio preto entre os brancos.
E quem, quem, quem mesmo,
você morderá na hora do banho?
Minha mão não está aí
para tentar parti-la em duas.
(Agora que você foi
me parto em mil...)
Prometa que um dia iremos nos encontrar
e você me dirá
que tomei as decisões certas,
que não demorei a lhe socorrer,
que fiz o que era possível para lhe salvar.
Um dia me diga
o quanto me amava e aceitava meu amor,
que sempre soube
que eu amava você e Juliano
na mesma intensidade
e que entendia o tratamento diferente,
de acordo com o temperamento de cada um.
Um dia me diga
que o melhor momento do seu dia
era quando eu voltava do trabalho
e lhe encontrava me esperando na calçada,
que você recusava meu carinho
e se esquivava dos abraços
porque se chateava com minha demora.
Um dia me diga
o quanto você esperou por mim na clínica
(que perdoou mais essa demora)
e que queria se despedir de todos,
mas não teve forças para tanto.
Um dia me diga
o quanto resistiu e lutou pela vida
para que não sofrêssemos sem você.
Diga quanto lamentou e lamenta
pelas lágrimas de cada um de nós.
Um dia me diga
que você foi feliz mesmo sem ter:
o melhor nome,
a melhor ração,
a melhor casa,
a melhor família.
Um dia me diga
que fui a melhor mãe felina que eu podia ser,
mas igual a toda mãe exagerei na medida,
fui muito egoísta para dividir você com você mesmo.
E ria de tudo isso comigo...
Um dia me diga
que todo gatinho merece o céu,
explique que a ressurreição da carne
inclui vocês também
(está lá na bíblia e eu não entendi).
Conte como curtiu cada novidade
e como é perfeita a vida eterna.
Um dia venha me encontrar
com seus irmãos Rabi, Cinzento e Ferinha,
seus primos Mimiane, Snarf, Snarfinho e Léia,
seus amigos Marx e Aslam.
E me chamem de bobona por duvidar
que reencontraria vocês.
| 2011 |
Depois de ler ouça Caetano Veloso: "Mimar você"
Que lindo, amigue!
ResponderExcluirSério, quase chorei...
Marcelino, onde quer que esteja, deve estar se achando por tal inspiração.
*-*
beijos
Minha querida,
ResponderExcluirNão dá para não chorar de emoção. A gente nunca se recupera de uma perda dessas, não é? Até hoje eu me lembro de todos os ga(ro)tos que passaram pela minha vida e agradeço a Deus pela chance de tê-los conhecido. Estou certa de que ainda nos encontraremos, todos, numa grande festa celeste e felina.
E quem é poeta faz rima mesmo na dor. As palavras às vezes é consolo, às vezes soa como a voz de um anjo nos consolando, as vezes são apenas uma angustia presa no nosso peito que ninguém é capaz de compreeender. Palavras possuem significado e poesias possuem códigos que somente alguns conseguem decifrar. Admiro você!
ResponderExcluirThiago Simao