Juliano com Tallyta Paula no aniversário de Paula Izabela em 27/06/2010. Foto: Andréa Aquino. |
Na, na, na, na, na, na, na, na, na...
Ei, Juli... Antes
de levantar da cama e ligar o computador eu havia suposto que dessa vez eu não
iria chorar, mas já comecei. Branquinha saiu do quarto – para não se emocionar
com minhas lágrimas? E eu fechei a porta para não ser incomodada, não terei
muito tempo livre antes de sair para o trabalho.
Hey, Judy, não fique assim!
Descobri que há um
dispositivo, provavelmente sempre o tive, mas só agora percebi. É como um disjuntor
de energia que dispara e apaga tudo para proteger os equipamentos elétricos em
caso de curto-circuito. Só isso justifica minha mãe continuar sã depois de tudo
que já suportou, incluindo a morte dos seus dois filhos (únicos homens).
Sabe a vida ainda é bela.
Reconheço o cheiro e
o sabor desse disjuntor de outros momentos. De quando liguei para o hospital e
me disseram “esse paciente já morreu”; de quando me ligaram num sábado de manhã
avisando que Glaucinha havia morrido (e daquela vez não era trote, era para
sempre); para não citar outros tantas vezes que meu disjuntor disparou e apagou
tudo. Um black-out protetor!
Esqueça tudo que aconteceu!
Em 2006, quando
Ferinha sumiu aos 13 anos, levei uns 03 meses esperando e acreditando que ele
poderia voltar. Depois “a ficha caiu” e prometi que nunca mais teria um gato.
Iria apenas curtir os bichanos meus sobrinhos. Até que no meu aniversário de 30
anos, em 2008, minha mãe me trouxe você. De presente. O melhor presente de
aniversário da minha vida!
Amanhã será um novo dia!
Quando lhe
procuramos dia 02 de janeiro para “exibi-lo” (a palavra é bem essa) às visitas
e não o encontramos, imaginei que fosse aparecer à noite ou nos dias seguintes.
Ao contrário das outras dezenas de vezes que você sumiu, eu não lhe procurei.
Nem chorei de preocupação como fiz em novembro quando você passou uma semana
fora e voltou esquelético. Meu sentido (felino) me tranquilizava e dizia que você
estava bem. Hoje, 10 luas passadas, o sol me despertou para a amarga
constatação: você voltou só para se despedir.
Pra que chorar?
Sabe essa irritação
na minha pele, Julão? Está doendo tanto quanto sua ausência. Isso é mais
estranho do que monstruoso. É a certeza de que devo respeitar o curso natural
da vida. Devo respeitar você e seu direito de viver novas aventuras. Mesmo
assim, em meu egoísmo humano (você nunca soube o que é isso...), não posso
conter minhas lágrimas.
Se o mundo agora te faz sofrer
tudo vai passar,
você vai ver...
Ei, Juli... Prometo
que em minha casa nunca mais um gato terá nome de jogador de futebol, você será
o único bichano-milionário em nossa família.
Prometo que sempre me
lembrarei de você quando comer frango com ossinho, sardinha e creme de galinha.
Prometo a você que
nunca mais abrirei sua torneira para outro bichano tomar água. Ela é só
sua. Para sempre.
Prometo que não deixarei
outro felino dividir a cama comigo. Nunca mais os meus lençóis terão pelos, eu
juro.
Prometo que nenhum
outro gato tirará foto em meu bolo ou com meus presentes de aniversário.
Prometo que nunca
mais subirei no telhado de camisola para outro “resgato”.
Prometo que nunca
mais envolverei um gato febril na manta que usei quando era bebê.
Prometo que, no que
puder, ajudarei as mães-felinas a cuidarem dos seus filhos doentes ou a
reencontrarem os desaparecidos.
Prometo que
publicarei “Gatoeira para cães e ratos” com sua foto e dedicatória.
E mais uma bateria de
promessas: miarei com todas as minhas forças para conseguir o que quero; me
encolherei humildemente e balançarei bem antes de cada pulo; sempre cairei em
pé e não esquecerei que dormir é a melhor invenção da natureza.
A promessa bônus será
cumprida por papai que deixará de acender a luz do meu quarto de madrugada para
perguntar “cadê o gato”.
Mas em troca disso,
nós humanos e nossas negociatas, me prometa que você vai se comportar como lhe
ensinei. Prometa que tomará água direitinho para não desidratar, não usará seus
poderosos olhos azuis para chantagens, não baterá nos outros bichanos, não fará
escândalos na hora do banho, e, o principal, não sumirá.
Muita coisa vai fazer você mudar.
Sempre achei que se
você saísse da minha vida eu não suportaria. Não conseguiria trabalhar, comer,
dormir. Precisaria de padres, médicos e amigos. Estranhamente só precisarei dos
amigos – como sempre.
Não tem mais razão de ser essa tristeza.
Por que será que me iludi achando que você faria minhas sandálias de travesseiro para sempre? Talvez porque você sobreviveu a infecções urinárias, bronquites, abscessos, quase atropelamentos e dezenas de sumiços. Já quase lhe perdi tantas vezes que acreditei que nunca lhe perderia definitivamente. E a sensação de não estar lhe perdendo é tão forte que sua ausência quase não dói. De verdade, nunca nos perderemos um do outro porque os verdadeiros amigos nunca se vão.
Mais vale tentar viver de esperança.
Julão, você
observou como repeti as palavras “nunca” e “sempre” nessa missiva? Até tentei
evitar, cortei algumas, mesmo assim o “nunca” e o “sempre” prevaleceram.
Impossível que fosse diferente. Entre nós, o “nunca” é o esquecimento mútuo e o
“sempre” resume todas as vezes que perdoamos as ausências um do outro.
Hey Judy, olha pra mim!
Veja o dia como está lindo!
Hoje eu lhe perdoou
por me deixar. Meu egoísmo me contorce, mas serei forte e deixarei que se vá
com seus profundíssimos olhos de céu. Seja sempre feliz, gatão!
Na, na, na, na, na, na, na, na...
Juliano em um dos seus cantinhos preferidos. Foto: Paula Izabela. |
| 2013 |
Ow, minha amiga, estou arrasada. Nem sei o que dizer. Meus pensamentos estão com Juli. Queria apenas te dar um abraço imenso. Entretanto, os ga(ro)tos aqui te mandam lambeijos e pedem para eu te falar que, se bem conhecem a tia Paula, nenhuma dessas promessas será cumprida - porque os gatos não conhecem a palavra fidelidade, talvez, mas sabem como achar um espaço no coração do humanos...
ResponderExcluirA palavra que define este gênero deveria ser "amimais". Amamos tanto,por nós e por eles. Será que nós amamos mais por nao termos a conviçao de que a recíproca é verdadeira. Mas quem se preocupa? Acreditamos que os animais sim, amam de verdade amam mais do que nós, um amor puro, sem malícia nem mácula! Chorei sem saber se foi porque o Juli foi embora ou tristeza por minha amiga. Oh juli, se pelo menos você pudesse visitar este blog... Voce voltaria de quatro para os braços de sua escudeira fiel. Beijo, amiga. fica bem!
ResponderExcluirjully
Pena, Iza... é doloroso...
ResponderExcluirSinceramente amiga, amo gatos sabe disso, Não me contive e estou me derramendo em lágrimas!!!!!
ResponderExcluirPaula, chorei junto com você, mas não exatamente no mesmo momento. Só quando li seu texto. Fiquei muito tocada pensando em você e como está se sentindo. AO mesmo tempo, lembro do meu Romeu tão longe de mim e por quem sinto tamanho amor. Olha, meu Romeu também é seu. Sei que não é uma questão de substituição, mas é uma questão de lembrar e isso é muito importante e reconforta nosso coração. Saiba que quando for a Fortaleza pode passar na casa da minha mãe para visitar Romeu, ele vai adorar conhecer você. Tenha força nesse momento. A dor vai passar e ficará a saudade do dever cumprindo, do amor partilhado, da amizade eterna. Deus te abençoe. Bjo!
ResponderExcluirOi amiga....meu ombro está longe, mas minhas preces podem te alcançar.....estarei aqui rezando para que sua dor logo passe e d~e lugar ás lembranças e saudades....Que Deus a abençoe....
ResponderExcluirSomente quem AMA consegue expressar com tanto sentimento a perda de alguém tão estimado... Força, amiga! Lembro que ele foi SEU PRESENTE de aniversário... como vai ser qdo eu voltar a sua casa e não vê-lo??? ohwww... estou com saudades... um abraço..
ResponderExcluirAmiga, mal pude acreditar no que acabei de ler. Estou em prantos, amamos tanto esses gatinhos que esquecemos que a vida segue seu curso. Mas fica o amor, a alegria e a saudade de um amigo fiel que nos acompanha até o final. Bjs e que Deus a abençoe. Marilac.
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