A Marisco, gato da minha rua
Antes do alvorecer
rascunhar no lençol uma manhã
que coincide com esta.
Uma manhã de acordes cadentes
vale mais do que os sonhos da noite,
no abrir os olhos tudo se desfaz.
Perceber a expansão colorida dos tons
nos quadros que transitam pelas paredes,
nos tigres que brincam nos jardins,
nos gatos que vagueiam pelas calçadas
de porta em porta a espera de um free-jazz.
Felicidade é hoje,
qualquer dia,
qualquer hora.
A dor é bela.
A morte é doce.
A vida é uma vertigem.
A ex é um ser intangível.
A filha é sempre insuperável.
A mãe é a melhor qualidade do pai.
A poesia é o labirinto exato de si mesmo.
De Paris a Marselha trocamos beijos de flores
com bocas cheias de peixes.
Os autonautas da cosmopista numa sucessão de quatro estações:
ilusão, verdade, frustração e maturidade.
O poema na improvisação do jazz,
em meio aos erros e acertos de cada dia.
Cortázar provou que nada disso precisa rimar.
São versos brancos que nos levam as cavernas dos ciclopes.
Por vezes os poetas são famas,
alguns são esperanças,
quase sempre cronópios.
| 2011 |
ALCANTARA, Paula
Izabela de. Jazz para gatos. IN: GADELHA, Raimundo
(org). As melhores imagens da série Brasil retratos poéticos. Versão 2: edição bilíngue.
Fragmentos selecionados por José Inácio Vieira de Melo. São Paulo: Escrituras, 2012.
Folha: 23/10/2012.
Para ler ouvindo Pat Metheny: "Always and Forever"
Jean Anouilh escreveu "Haverá sempre, em algum lugar, um cão abandonado, que me impedirá de ser feliz..." Eu digo o mesmo dos gatos, dos cães, dos cavalos...
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