''Porque a força de dentro é
maior que todos os ventos contrários." Caio Fernando Abreu
Em 1997, na época em que eu
ainda escrevia “querido diário”, escrevi a minha primeira retrô que foi febre
entre as amigas. Talvez uma pessoa que escrevia diário para ser lido
assiduamente por uma dúzia de amigas era blogueira de papel antes de ser criado
o primeiro blog dessa civilização.
Por volta do ano 2000, a
retrô virou e-mail coletivo para um grupo intitulado Clube da Luluzinha. Em
2008 as retrôs chegaram ao VIVER ME DESPENTEIA, ainda personificado apenas como Laboratório de Autoria.
Quem está entrando nessa
barca, cheia de furinhos, pela primeira vez deve saber que desde 2005 os anos
foram batizados de alguma forma jocosa por um motivo bem concreto. Vale
relembrá-los:
2005 – o ano da
Urucubaca;
2006
– um ano Barroco;
2007
– o ano do Sol Quente;
Assim sendo, 2012 fica
sendo...
O
ANO EM QUE O MUNDO NÃO ACABOU!
JANEIRO
2012:
2012 logo mostrou para que
veio quando a coordenadora recém empossada me informou que eu teria que abrir
mão das minhas atividades freelas, correspondentes a um terço da minha renda,
em troca do... sorriso do gerente e da minha carteira assinada. Como eu não sou
dentista, nem promoter de creme dental ou nada que equivalha, reconheci que
aquela era uma decisão que já havia sido por muito adiada. Chegara o momento de
escolher!
Tomar decisão de barriga
vazia não é aconselhável a ninguém. Melhor jantar com os amigos numa
churrascaria da capital – preferencialmente com a conta paga pelo idealizador
do encontro. Não demorou a berlinda ser o dilema profissional do momento. No
meio do meu transe verborrágico fui interrompida por um:
– Eu compro suas horas!
Não sendo nada imoral,
ilegal ou que engorde... Vendidas!
FEVEREIRO
2012:
E eu que havia duvidado
quando, alguns meses antes, ouvi de um descendente de ciganos:
– Você perderá algo que
gosta muito e sofrerá por isso. Não será nada fácil deixar tudo que construiu
para trás, mas será necessário para seu crescimento. Até janeiro você receberá
uma proposta de fora, da capital.
Dia 02 de fevereiro reunião
de 180 minutos com meu gerente, não chegamos a um consenso sobre minhas
atividades extras. Dia 07, independência ou morte, entreguei minha carta de
demissão.
MARÇO
2012:
Dia 03, bota-fora coletivo:
Rosana da faculdade e eu do trabalho. Como tudo (de ruim e de bom) no Brasil
acaba na gastronomia italiana, viva as massas! Só não esperávamos que o Pizza com Livros fosse se tornar febre que só cura com chá de orégano.
Dia Internacional da Mulher,
meu último dia de aviso prévio. Dia 09 assinar a rescisão. Dia 10 bota-fora (literalmente)
da empresa. Dia 11 ter certeza que meu mundo acabou em 2012. Algum dia depois
do dia 12, ouvir do meu novo patrão:
– Tire um mês de férias. Você
está precisando. Depois disso a gente conversa.
Foi isso mesmo? Esse cara
sou eu se arrependeu de haver me convidado para trabalhar com ele? Meu
primeiro mês de trabalho seria de férias ou my boss estava me demitindo antes
que eu fizesse alguma besteira? Na dúvida, obedecendo às ordens e arrumando as
malas para a III FLIBO.
ABRIL
2012:
Abril para a Leitura mais
um ano fechando com minha beleza. Mala, rodoviária, evento, hotel, rodoviária,
evento, aeroporto, bagagem extraviada, evento, aeroporto, hospital... Ops! Esse
item não estava na lista, mas furou a fila, bloqueou minha agenda e cancelou os
projetos agendados.
Era 18 de abril, estava na
sala de embarque do aeroporto de Fortaleza, liguei para mamãe e soube que papai
havia sido internado. Do aeroporto de Juazeiro, segui com mala, maleta e
malinha, para o hospital.
Papai desenganado pelos médicos:
complicações no fígado, vesícula, pâncreas, rins, esôfago e pulmão. A vida em
stand by a nossa volta. Soro, sondas, cateteres, termômetros, balanças, banhos,
papinhas. Agora eu era o pai e ele era a filha – o meu mundo estava mesmo
acabando em 2012.
MAIO
2012:
Aniversário de casamento dos
meus pais, aniversário de 15 da minha sobrinha e tudo mais sendo ignorado por
nós. Todas as energias voltadas para um único propósito: salvar meu pai.
A pressão de mamãe não
suportou a pressão. Ela precisou ser internada em observação no mesmo hospital
que papai estava. Como escreveu minha gerente siamesa por e-mail: “Até os mais
bravos guerreiros precisam de colo de vez em quando.”
Do nada me apareceu um
pretendente da adolescência que eu não via há uns 13 anos. Apesar das minhas
objeções e desculpas, desocupou o bar do meu pai, lavou a casa, mudou os móveis
de lugar e deixou tudo pronto para recebê-lo. Enfim, fez tudo que eu não
poderia fazer com meu pé enfaixado pelo dedo quebrado no cantinho da cama (a
lesada sou eu...).
Dia 17, após 29 dias com os
olhos grudados no visor dos aparelhos, trouxemos papai para casa. Magro,
abatido, quase sem andar e boa parte do tempo inconsciente. Alimentação
hospitalar e cuidados hospitalares por todos os dias da sua segunda vida – o
maior de todos os milagres.
JUNHO
2012:
Preocupada com o novo
emprego. As férias inaugurais seguidas por um caos de um mês inteiro.
Resposta do my boss por e-mail: “Não se preocupe com mais nada. Família é
prioridade.”
Preocupada com a última
disciplina da FGV. Se eu fosse reprovada em Direito Autoral perderia o
certificado de conclusão do meu curso de 02 anos. Estava devendo responder mais
de 200 fóruns, ler/estudar todo o conteúdo e resolver/encaminhar 05 provas.
Enviei um e-mail perguntando ao Prof. Clébio Paulo se eu ainda tinha alguma
chance de recuperar a disciplina. Como um bom advogado, ele respondeu me
fazendo uma lavagem cerebral. Coisa pouca... Só o suficiente para me fazer
passar 05 dias plantada na frente do pc – pequenos intervalos para tomar banho.
Comer é para os fracos! Dormir para quê se a gente pisca? Conclui Direitos
Autorais dentro do prazo negociado. Média final: dez! Lero, lero!
Dia 12, não foi nada
romântico. Além da morte de Manolo (meu sobrinho bichano da Paraíba), foi
divulgado o resultado dos 40 alunos selecionados pela FGV para a etapa final em
Brasília. Meu nome não estava lá. O 40º colocado tinha 9.60, mas a minha média
global era 9.90. Comassim, tio prof?
Num programa de 9.500
inscritos no país, 3.552 aprovados no nivelamento, 1.873 aprovados na fase
presencial, 1.764 ingressos nos módulos com tutoria, 133 concludentes com
tutoria... Depois de sobreviver a todos esses gargalos eu ia morrer por um
“erro do sistema"? Rodei a paraibana, a cigana e a fada Morgana!
Mobilização entre os colegas
na plataforma EAD, 24 e-mails para a FGV, dezenas de ligações para o MinC e
alguns (afetos e desafetos) poderosos depois, a Sefic me notificou que ia abrir
as pernas. Ops! Ia abrir mais 10 vagas em Brasília por conta das “falhas do
sistema”. De nada, 09 colegas beneficiados pela minha guerrilha!
Dia 27, cheguei exausta e exaurida
a minha 34ª troca de pelos!
JULHO
2012:
Brasília: Aninha de Hollanda,
querida, cheguei!
Você
não sabe o quanto eu caminhei
pra chegar até aqui.
Percorri milhas e milhas antes de dormir,
eu não cochilei.
Os mais belos montes escalei,
nas noites escuras de frio chorei.
A vida ensina e o tempo traz o tom
pra nascer uma canção.
Com a fé no dia a dia
encontro a solução.
pra chegar até aqui.
Percorri milhas e milhas antes de dormir,
eu não cochilei.
Os mais belos montes escalei,
nas noites escuras de frio chorei.
A vida ensina e o tempo traz o tom
pra nascer uma canção.
Com a fé no dia a dia
encontro a solução.
Brasília: amanhecia 10ºC no
meu resfriado; ao meio-dia uns 40ºC do esnobismo do Prof. Pimenta; ao
entardecer uns 30ºC dos sacarmos do panapleu; à noite uns 20ºC no pescoço de
peru e no dia seguinte tudo de novo.
O MinC só poderia oferecer
cafezinho durante nossa estada no curso. Mas eu não tomo café – minha religião
não permite. Cartão de crédito para as passagens e alimentação; QG de JanainaRico para minha sombra e eu; Nonato para o city tour; Wandilene para comprar
meus absorventes (experimenta andar a pé no Plano Piloto...); e claro, amigos de
todas as regiões desse Brasil imenso.
Chegando de Brasília,
Fortaleza para a editora, Sousa para o CCBNB e Campina Grande para o I Colóquio
Celso Furtado. E como diria o Garfield: “Ser herói cansa! Quando é que esses
caras comem?”
AGOSTO
2012:
Mês EMO! Chega de viagem!
Sério: cansei!
Cancelei a ida para
Fortaleza (receber a premiação do Viver me despenteia que foi o blog mais votado
no site da Janaina Rico); cancelei a ida para Recife; cancelei a ida para
Campina Grande. Cancelei tudo!
Algumas publicações com meu
nome circulando por aí, em sites, agendas e coletâneas. Quem essa pessoa? Esse cara não sou eu! Socorro!
Cama, eu te amo! Só você me
entende!
SETEMBRO
2012:
Uma passada meteórica pela
III Feira do Livro Infantil de Fortaleza; as ações na editora tomando forma; os
projetos no CCBNB sobrevivendo aos desafios; as aulas no município sofrendo com
os arremessos políticos de campanha; o Pizza com Livros conquistando leitores e
paladares; e meu pai reagindo bem ao tratamento (graças a Deus). De vez em
quando, a vida parece não ser tão cruel.
OUTUBRO
2012:
Uma tarde calorenta,
encalacrados no trânsito da capital, my boss me olha pelo espelho retrovisor e
interrompe meu discurso sobre a CNIC que acontecia naquele momento:
– Você deveria se candidatar
ao Conselho Nacional de Políticas Culturais. É bem o seu perfil...
Um cento de dias depois,
exatamente dia 25 de outubro, recebo um e-mail do Carlos Vaz. Delegada? Quem?
Eu? Eleita no Ceará pelo Colegiado Setorial do Livro, Leitura e Literatura?
Quando eu sigo as sugestões alheias sempre acabo no susto.
NOVEMBRO
2012:
Entre o Clube do Leitor sobre Lobato no Cariri e o Clube do Leitor sobre Quintana em Sousa, a X Bienal
Internacional do Livro em Fortaleza.
“Daí
pra frente ninguém mais se espanta,
E o resto da noitada eu não posso contar.
Anoiteceu, e eu voltei pra casa,
que o dia foi longo e o sol quer descansar.”
E o resto da noitada eu não posso contar.
Anoiteceu, e eu voltei pra casa,
que o dia foi longo e o sol quer descansar.”
DEZEMBRO
2012:
Como num só mês foi colidir
na minha agenda a mediação/produção do lançamento do livro do ICVC; a oficina de Economia Criativa; um Clube do Leitor com Flávio Queiróz (meu ícone da
graduação); uma viagem para Brasília; outra para Guaramiranga e duas para
Fortaleza?
Paula Izabela, sua louca
despenteada, como é que você pode permitir tudo isso na mesma galáxia e no
mesmo século?
Brasília: Marta Suplicy, sogrinha
querida, cheguei!
Dessa vez Brasília não
estava congelando, estava fervendo. Dessa vez eu não paguei nada, o MinC bancou
tudo (oia aí, as coisa miorano...). Dessa vez eu não tive tempo de fazer city tour,
mal tinha tempo de almoçar. Dessa vez eu não fiz amigos, fiz campanha política.
Dessa vez não fui eleita delegada, fui eleita suplente da Cadeia Criativa do
CSLLL/CNPC 2013-2014. Você não entendeu essa eleição? Nem eu! Então, deixa
quieto!
DIA
21 DE 12 DE 2012 – O DIA EM QUE O MUNDO NÃO ACABOU:
As expectativas não me pareciam otimistas para sobrevivência – tudo culpa dos maias? As duas viagens a Brasília
em 2012 me envelheceram uns 30 anos. As 30 horas de confraternização no Vale das Nuvens (Eco hotel em Guaramiranga), com my boss e meus hilariantes colegas de trabalho,
me devolveram meus 3.4 com corpinho de... Seria politicamente correto deixar
essas questões polêmicas para outro texto, né? Vai que alguém discorda...
PREVISÃO
PARA OS PRÓXIMOS 365 DIAS:
2012 arrastou muitos
escritores (snif...), levou também alguns amigos e parentes (snif...), provou
os que ficaram pelo aço, pelo fogo e pelo fel. Se minha família sobreviveu ao
ano que era para acabar com o planeta, acredito que estamos aptos para 2013.
Quanto a essa despenteada
aqui, aprendi a recomeçar com meus gatos. É preciso se encolher e balançar
antes dos grandes saltos. Otimismo sempre! E desafios também! Afinal, ostra
ociosa e feliz não produz pérola.
2013, estamos prontos!
Venha que nós queremos lhe usar!
Meu amor, você é mais que merecedora de um ano cheio de luz, trabalho, livros, amores e dinheiro!
ResponderExcluirApesar de tudo você é forte! Sempre! Minha avó de 94 anos, durante a virada disse: Acho que 2013 vai ser muito melhor!
ResponderExcluirTenho certeza de que 2013 será muito melhor - até porque piorar é difícil...
ResponderExcluirParabéns, Paula!!!
Não é fácil descrever a vida com esse nível de humor!
Dino Filho
2012 existiuuuuuuuuuu...e minha amiga sobreviveu...
ResponderExcluirRose.
Eu digo sempre sem tremer a ponta da lingua: voce é ótima! Minha super-heroína preferida!
ResponderExcluirabraços!
jully