PANAPLÉIA

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Bem-vindo(a) ao Laboratório de Autoria de Panapléia! À esquerda das postagens, estão meus textos divididos em categorias e temas. À direita, indicações de blogs e as mídias sociais. No rodapé, mimos felinos e os créditos do blog. Boa leitura!

IZAUFRAN, A LUTA CONTINUA!


Fechamento de salas de aula, turnos e escolas é modinha nacional que pegou no Ceará. Somos o estado que mais fecha escolas no Nordeste, somos o 4º lugar no país, perdendo para os estados do Norte. Motivo: os municípios não têm dinheiro. Sabemos bem o motivo: se colocarmos certos prefeitos para administrarem o Saara... em poucos anos faltará areia.

Gestões estaduais e municipais fecharam escolas no Juazeiro nos últimos anos. Uma ou outra escola, de forma isolada, gerando repúdio e posterior esquecimento por parte da população. Até que (a genialidade humana!) tiveram a brilhante ideia de publicar diferentes listas de escolas que seriam fechadas. E foi pela imprensa que a odisseia começou...

MARÇO/2013: A imprensa de Juazeiro divulgou diferentes listas de escolas que seriam fechadas. Em algumas delas aparecia a E. E. F. Izaufran Moreira de Freitas, Sítio Riachão. Motivo: apenas 88 alunos. Discrepância: segundo dados do Pronacampo, 75% das escolas rurais do país possuem menos de 100 alunos. Irão fechar as outras?

ABRIL/2013: Com 172 assinaturas dos familiares dos alunos embaixo do braço procuramos a secretária Célia Viana. Ela concordou que pela estrutura física ter sido reformada e ampliada em 2010 estaria apta a receber outra escola. Principalmente pela facilidade de acesso por ficar na Rodovia Pe. Cícero, trecho em visível expansão imobiliária.

MAIO/2013: A comunidade prontificou-se em levar cópias do abaixo-assinado aos vereadores ao sermos notificados via “recado” da superintendente que a escola fecharia no final do semestre. Preto Macedo respondeu que era ordem do MEC (só não descobrimos de qual MEC ele estava falando!); Bertran Rocha respondeu que o diretor (amigos...) não ficaria sem emprego; Zé de Amélia Júnior respondeu que não havia tirado votos suficientes por lá; Cláudio Luz respondeu que gostaria de se reunir com os professores e funcionários no final de semana seguinte. Pauta bônus: redução salarial dos professores.

(Sou apartidária, mas quem for antipartidário, por favor, jogue pedras! Fiz uma gruta para Nossa Senhora no meu quintal e preciso de pedras para fazer outra no primeiro andar. Grata!)

Saiba mais lendo a postagem “A luta despenteia”.

JUNHO/2013: Marcamos uma reunião na escola para discutirmos a problemática com a comunidade, a Seduc mandou fechar o estabelecimento e recolher as chaves para impedir a articulação. Fizemos um protesto do lado de fora, sob o sol das 15h, com adultos e crianças. Orientados pelo vereador Cláudio Luz entramos com duas ações judiciais: Ministério Público e Defensoria. Tudo temperado por spray de pimenta nas manifestações do “Fora, Raimundão!” contra Dilma (sic!).

JULHO/2013: Férias no fórum. Digo, no Ministério Público. Ou melhor, na Defensoria. Desenhando – não tivemos férias. Caímos de paraquedas numa audiência (fomos para espionar...) que era nossa e não havíamos sido convidados. Só no Ceará o Ministério Público Estadual faz audiências particulares? Assinamos um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) obrigando a Seduc a fazer o “dever de casa” sem pular nenhuma questão.

AGOSTO/2013: Tivemos que pressionar a Seduc para cumprir o TAC – se reunir com a comunidade para solucionar os problemas de lotação de professores e ausência de merenda escolar. Impressionante como gestão pública só pega no tranco!

SETEMBRO/2013: Aprovado nas primeiras instâncias o projeto de lei federal Nº 3534/2012: proibindo o fechamento de escolas rurais no Brasil. Seguiu para o Senado em caráter de prioridade.

OUTUBRO/2013: Projeto de lei do vereador Cláudio Luz aprovado na Câmara Municipal (tendo como voto contrário apenas o Capitão Vieira Neto) proibindo o fechamento de escolas urbanas e rurais – possibilitando a essas últimas uma prática pedagógica de acordo com a realidade do campo.

NOVEMBRO/2013: Lei municipal Nº 4258/2013, autoria de Cláudio Luz, sancionada por Raimundo Macedo, publicada em Diário Oficial. Escolas abertas = eleitores conscientes.

DEZEMBRO/2013: Embate com o transporte escolar tido como “padrão MEC” (utilizado para aula de observação do espaço urbano) que não respeita limites de velocidade, descumpre o horário combinado para buscar e deixar os alunos.

Saiba mais lendo a postagem “Transporte escolar: padrão MEC?”

JANEIRO/2014: Seduc notificou verbalmente as escolas que sofrerão redimensionamento e nucleação. Gestores da secretaria foram à imprensa explicar que os procedimentos de fechamento dos turnos (leia-se: metade da escola) seriam discutidos com o núcleo gestor de cada escola (leia-se: cargos indicados por vereadores da base do prefeito) e com as comunidades (leia-se: pessoas que acreditam em falta de dinheiro antes de analisar os cálculos). A atitude da Seduc desobedece ao TAC assinado em setembro durante ocupação da Câmara Municipal:

"Cláusula 7ª – discutir com a comunidade e com representantes de classes estudantis e de professores, em data previamente agendada e comunicada aos representantes acima citados, a necessidade e viabilidade de redimensionamento de rede escolar, após o encerramento das matrículas e antes do início do período letivo de 2014."

Pelo que tudo indica há certa dificuldade na leitura desse mísero parágrafo. Quem não consegue interpretar uma cláusula consegue calcular o Fundeb?  Volta para a escola, Seduc!

5º ANIVERSÁRIO = 50 MIL DESPENTEADOS



É HORA! É HORA! É HORA!

É Natal e em seu 5º aniversário despenteados, o VIVER ME DESPENTEIA irá sortear livros.

Saiba como participar:
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Simples assim! \\0//

O sorteio acontecerá em janeiro e poderá ser acompanhado por essa postagem. Os livros serão entregues até o final de fevereiro. 



GANHADORES POR CATEGORIA

SEGUIDOR BLOGSPOT

Senna Xavier, produtor cultural. Sousa - PB.

SEGUIDORA FANPAGE

Ellem Silva, professora. Juazeiro - CE.

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Edylania Gomes, professora. Juazeiro - CE. 


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Daniel Teixeira, consultor. Juazeiro - CE. 

2014

TRANSPORTE ESCOLAR: PADRÃO MEC?



Em defesa do redimensionamento (praga que se alastra por todo país), durante audiência no Ministério Público, em 24 de julho de 2013, foi argumentado pela Seduc que “o transporte escolar em Juazeiro acontece com frota nova de carros, motoristas qualificados e cuidadoras que promovem atividades pedagógicas”. Aparentemente trata-se de um passeio pela Disney, mas a realidade está muito mais para trem fantasma.
No encerramento da I Semana de Cultura, Ciências e suas Tecnologias da E. E. F. Izaufran Moreira de Freitas, em 14 de dezembro de 2013, surgiu a ideia de uma aula de campo com o Fundamental II para discutirmos a questão do lixo e da reciclagem. Considerando que os alunos já residem no campo, fizemos um roteiro para visitar o espaço urbano (não o centro comercial já conhecido por eles).
A data inicial acordada foi quinta-feira, 26 de dezembro de 2013. Ao solicitarmos o ônibus escolar sugeriram a sexta-feira, dia 27, pois a quinta já estava preenchida. Concordamos com a sugestão e agendamos a concentração na escola às 16:00 para saída às 16:30. O ápice do nosso roteiro era a revitalização da Praça dos Ourives, reinaugurada como Praça Leandro Bezerra, a fim de discutirmos a reutilização das embalagens recicláveis na decoração natalina. Pretendíamos voltar 19h para que os alunos pudessem visualizar e fotografar a decoração apagada e acesa.
Através de cota entre os professores, preparamos para cada aluno uma sacola de TNT com bombons, chocolates e amendoins caramelizados. Quando me preparava em minha casa para torrar as pipocas que ainda seriam ensacadas, o celular toca. Eram os estudantes avisando que já haviam deixado o sítio. A ligação picotada caiu antes que eu pudesse entender o que estava havendo. Os telefones dos alunos não davam mais área. Liguei para os outros professores que haviam recebido ligações semelhantes. As informações como peças desordenadas não se encaixavam.
Talvez fosse uma alternativa telefonar para a direção – se houvesse uma. O último diretor pediu demissão, pois o deslocamento da casa dele até a escola era muito longo e não compensava financeiramente permanecer no cargo.
Para não lhe fazer experimentar nosso desespero, resumirei o que houve e que infelizmente só fomos tomar conhecimento quando encontramos os alunos. Acima eu apresentei o nosso planejamento, acordado por todas as partes. A execução antecedeu a programação em uma hora, impedindo que professores e alunos chegassem a tempo.
15:00 = escola ainda fechada, o motorista estaciona o ônibus e avisa aos vizinhos que sairia em 30 minutos. Os alunos que moram nos arredores da escola foram até lá explicar que a saída estava marcada para 16:30 com o acompanhamento dos professores. Seu Dedé respondeu que não precisava da presença dos professores para sair de lá. Ignorou a justificativa de que não havia como avisar da antecipação aos estudantes que moram distante.
15:30 = uma mãe ao perceber que havia algo errado ingressa no ônibus junto com os 20 estudantes que conseguiram se arrumar a tempo. Os outros alunos foram deixados para trás e o motorista seguiu em alta velocidade por uma estrada repleta de curvas – a Rodovia Pe. Cícero que dá acesso a Caririaçu – ignorando os protestos da senhora que acompanhava sua filha.
Felizmente o ônibus passa pelo Prof. Francisco que ia abrir a escola. Os estudantes ao reconhecerem a moto gritam para o professor que fez o retorno e seguiu o ônibus sem compreender o motivo da antecipação. Como nos sítios não há boa cobertura para celulares, os alunos só conseguiram telefonar para os outros professores quando já adentravam na área urbana. Não eram 16h ainda quando os estudantes foram literalmente despejados na Praça Leandro Bezerra com o aviso do motorista que sairia dali pontualmente às 17h. Apesar dos protestos do Prof. Francisco e de outros professores que já estavam no local.
Eu, que não conseguia decifrar o mistério, mandei as pipocas às favas e segui às pressas para a praça. Ao chegar encontrei os professores numa reunião que dividia opiniões entre seguir o planejado ou ceder a pressão do motorista. Na votação a maioria decidiu por manter o roteiro: esclarecimentos sobre Sustentabilidade Ambiental no espaço urbano, distribuição dos kits e caminhada (Estação do Metrô, Parque de Diversões, passarela, Igreja de São Francisco, Passeio das Almas e retorno pela Praça dos Franciscanos).
Quando deixávamos o pátio da igreja o motorista se aproximou e gritou a uma distância de 10 metros que só esperaria mais 10 minutos e iria embora com o ônibus. Retivemos os alunos apesar da revolta generalizada, enquanto dois professores seguiram para negociar com o motorista. Seu Dedé saiu andando a passos largos, ignorando os protestos dos professores que tiveram que correr para acompanhá-lo.
Resumo da negociação: os professores ouviram cobras e lagartos por terem saído com os alunos da Praça Leandro Bezerra, pois segundo o motorista a Aula de Campo seria apenas lá e ponto. Os argumentos para ter antecipado a programação em uma hora foram claríssimos: Seu Dedé “não gosta de trabalhar nas sextas”, “muito menos gosta de trabalhar final de ano” e estava de viagem marcada para Fortaleza naquela noite. (Graças a Deus eu não presenciei essa cena, teria terminado em hospital, cadeia ou cemitério!). Depois de chamar a atenção das pessoas que passavam pela praça naquele final de tarde com seus gritos, o motorista cedeu aos apelos dos professores e concordou em sair pontualmente às 18h, independente das luzes terem acendido ou não.
Na tentativa de distrair os alunos menores do que estava acontecendo, levamos todos para uma lanchonete e pagamos refrigerante para eles. Essa despesa não estava programada, mas precisávamos retê-los em algum lugar até que os conciliadores voltassem com alguma notícia pacificadora.
Era mais de 17:30 quando chegamos à Praça Leandro Bezerra para o debate sobre tudo que havia sido observado no percurso e conclusões individuais. 18h, acenderam as luzes pontualmente, estávamos a postos ao lado do ônibus. 18:10, 18:15, 18:20... E nada. Sabe aquele motorista que estava apressado para viajar? Conversou com os camelôs do outro lado da praça até mais de 18:30. Enquanto, nós, professores, sofríamos para manter os alunos em espera, sem se dispersarem.
O professor Francisco guardou sua moto numa residência ali perto para ir dentro do ônibus acompanhado o retorno até o sítio. Noite? Estrada esburacada? Curvas? Protestos do professor, da mãe e dos alunos? Por que se preocupar com bobagens? Ninguém morre no trânsito no Brasil, muito menos nas festas de final de ano.
Seu Dedé não é uma exceção. Do Oiapoque ao Chuí estudantes são carregados como quem transporta lixo reciclável – sim lixo, se fosse animal o dono reclamaria. Mas aluno tem dono? Aluno de escola pública tem dono? Aluno da zona rural tem dono?

Aviso aos navegantes, esse é o transporte escolar que a prefeitura oferece como solução para o fechamento das salas de aula. Declaração da Seduc em audiência pública: “nosso transporte escolar é padrão MEC”. Oremos!                                                                      

| 2013 |             



OS MILHÕES POR TRÁS DOS VINTE CENTAVOS

“O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.”

João Guimarães Rosa

Estaremos no protesto dia 18.

Embora o título nos remeta aos manifestos que ocorreram em todo país, nos voltemos para os números que levaram Juazeiro às ruas esse ano: “40% por cento” era o grito dos professores em junho. “Libertem os quatro” foi o grito dos estudantes semana passada. E o que aconteceu nesse meio tempo?
Durante o ano de 2013 presenciamos em Juazeiro uma onda contagiante de shopaholic (viciado em consumo), conhecida como a “Farra do Sabão” ou o “Escândalo das Bassouras”. Agravante: com o dinheiro público. Compras absurdas que duvidaram da inteligência de 250 mil habitantes pelo simples fato de cerca de 65 mil serem ingênuos ou vendidos, ou algo que equivalha. Tudo por um novo shopping? Quem sabe com (enfim...) um cinema!
Tivemos também um gênio que concluiu que um protesto que gritava “Fora, Raimundão!” era contra Dilma (sic!). Podemos até fazer um “Fora, Dilma!”, mas os que ocorreram aqui durante 2013 não foram para ela... ainda.
Vozes se levantaram nas redes sociais: “Movimento Fora Raimundão”, “Movimento Juazeiro Limpo”, fakes apartidários e tantos outros de bandeiras diversas. Estudantes se articularam e ocuparam a Câmara, arrancando (literalmente) do Ministério Público (talvez) o mais longo Termo de Ajuste de Conduta assinado com a Prefeitura. 2013: ano em que o Ministério Público trabalhou em Juazeiro em velocidade 5, apesar da lentidão da burocracia brasileira. Foram quantos TACs até aqui? Perdemos a conta!
E por falar em conta, quantas CPIs arquivadas? Quantas trocas de denúncias na Câmara? Quantos votos secretos protegendo cúmplices? Quantos CDs de gravações clandestinas foram silenciados por Zé de Amélia Júnior nos últimos anos?

“O medo pode matar o seu coração."
Água de Beber, 
Vinicius de Moraes e Tom Jobim

E o povo? Bem, o povo... meio que se buliu. Acordou, bocejou, levantou, deu algumas voltas de sonâmbulo pela Casa do Povo, depois voltou a dormir. Por que tanto sono? Ou seria apenas cansaço de tantas notícias de corrupção? Ou seria apenas fraqueza nas pernas por estar subnutrido pelas bolsas que não o deixa morrer de fome, mas também não o alimenta? O povo se cala por que nunca aprendeu a ter voz? Ou por que a Educação rascunhada que recebeu não o ensinou a articular uma construção frasal completa? Essas e outras perguntas são temas de simpósios e colóquios, sejamos mais objetivos.
Em 12 de dezembro de 2013, quatro universitários fizeram na Câmara o que 08 em cada 10 juazeirenses gostariam de ter feito. Esclareçamos aqui os 02 que ficaram de fora: 01 beneficiado por algum dos corruptos lá presentes e o outro, um bicho grilo fora do ar que só tem como preocupação a esperada inauguração do cinema.
Essa multidão que, sentados no sofá, vendo a TV, ou diante da tela do computador, apoiou o protesto do lixo irá para a manifestação quarta-feira pela manhã? Irá levantar sua voz durante a audiência para que esses jovens não sejam punidos por aquilo que 80% dos juazeirenses gostariam de ter feito? Provavelmente não irão porque precisam estudar ou trabalhar – horário comercial. Compromisso vem antes de qualquer protesto – é a voz conivente com seu opressor.
Para que estudarmos se o ex-presidente da Câmara “barre” nosso dinheiro e é absolvido pelos seus iguais em voto secreto? Trabalhamos para nossos impostos servirem para os vereadores “rasgar dinheiro e jogar no meio da rua” – palavras deles – assistam aos vídeos nas fanpages “Juazeiro Justiceiro” e “Ajude Juazeiro”. Se é para estudarmos e trabalharmos para sustentar a usura desse vândalos... Melhor protestar pela gente!
                         Povo de Juazeiro, não é um protesto em favor de Cauê Pinheiro, Davi Catão, Dudu Pereira e Thiago Simão. É um protesto em favor da minha e da sua família! É um protesto para gritar que o nosso saco está cheio de indignação. A não ser que você, burro de carga, esteja muito satisfeito em trabalhar sob esse sol refrescante para sustentar corruptos. Reflita e tome a decisão correta! Mas fique atento: a escolha certa nunca é a mais segura! 





Fotos do Site Miséria.

| 2013 |

JULIANO HIGHLANDER: UM GATO FORA DA LEI

Juliano escondendo os olhos azuis do flash.
Foto: Paula Izabela.

Quem me conhece há mais tempo sabe que meu currículo de “Paulinha Alisa Gato” (apelido que meus tios colocaram durante minha infância) se divide em a.J. e d.J, ou seja, antes e depois de um gato muito maluquinho, mistura de Dennis Pimentinha com Connor MacLeod (do filme, Highlander).
Depois do desaparecimento de Ferinha aos 13 anos, eu bati o pé que não criaria outro gato. Dois anos depois minha sobrinha deixou escapar que mamãe me daria um siamês de presente. Mandei o recado que não queria saber de siamês, mas se fosse um gato amarelo tigrado... poderia até ser. No meu aniversário de 30 anos, mamãe me deu Juliano – já chegou aqui com esse nome ridículo, para um gato. Não mudei para que não ficasse bipolar. Foi pior: virou trombadinha, só falta entrar pro crime organizado para ser fichado na Federal – semana passada foi fichado na Polícia Civil (sic!).
Juliano não é um gato brasileiro com 7 vidas ou com 9, como dizem os norte-americanos. Juli é uma águia fênix que sempre ressurge das próprias cinzas, mesmo depois de ter perdido bico, penas e garras. No Orkut Juli teve a comunidade “Juliano: gato de mil vidas”. Muitos foram os adeptos diante de seu histórico de doenças crônicas (moribundo desenganado pelos veterinários) e sumiços (constantes e demorados). E quem diria... Juli sobreviveu e o Orkut morreu!
Em vista do mundo não ter acabado em 2012, Juli resolveu seguir o exemplo de Ferris Bueller’s: curtir a vida adoidado em 2013. Sumiu logo após o Réveillon por 29 longos dias que nos fizeram acreditar em sua partida mais que definitiva. De modo que entre lágrimas escrevi sua crônica fúnebre para o blog: Juli: entre o nada e o sempre. Gastei minhas lágrimas e meu teclado com defunto-vivo que reapareceu inteirinho depois de muitas orgias felinas.
Ao longo de 2013 pequenos sumiços rotineiros, internações ainda mais rotineiras – pelo amor de Deus inventem uma Unimed para gatos! – algumas sarnas e muita medicação. Foi quando se deu o sucesso...

AVENTURA Nº 1 MILHÃO E 4 PATAS: 
INVASÃO DE DOMICÍLIO!

23/nov/sab: Juliano sumiu de novo? [eu]
24/nov/dom: Tia, a senhora viu Juliano hoje? [minha sobrinha]
25/nov/seg: Onde foi que esse cachorro se meteu? [mamãe]
26/nov/ter: O gato faz uma falta, né? [papai]
27/nov/qua: A vizinha de baixo disse que tem um gato miando há dias no apartamento das estudantes. [minha mãe]
28/nov/qui: Juli, seu cachorro! As meninas viajaram de férias. Que diabo tu foi fazer aí, gato doido? [eu, em cima de uma escada na calçada, jogando ração e água pela ventilação do portão principal]
29/nov/sex: Moça, quero um BO para os bombeiros entrarem num imóvel fechado a fim de resgatarem meu gato. [eu, envergonhada]
30/nov/sab: Os bombeiros me pediram uma ordem judicial, além do BO. Demora quanto tempo para ser liberada? Quatro meses?! [eu, ligando pro advogado]
01/dez/dom: Ah, vocês têm o número da mãe das estudantes no Pernambuco? Graças a Deus! [eu, aliviada]
02/dez/seg: Eu não sei como ele entrou. Só sei que ele está lá. Alô... Alô! Dona Zélia, a senhora está me ouvindo? Alôôô... [eu, angustiada]
03/dez/ter: Juliano, a mulher disse que só vem no Ceará semana que vem. Aguenta aí! Você que é culpado por essa situação! [eu: sermão de mãe]
04/dez/qua: Juli, coma a ração! Deixe de choro! [mãe de gato impaciente]
05/dez/qui, hoje:
[Minha mãe] Acorda, acorda, Izabela! A vizinha disse que Juliano passou a noite miando bem fraquinho.
[Eu no portão] Juli? Juuuuuuliiii... Chaninho... Juliano... JULI!!!!!
[Minha sobrinha] Será que ele morreu, tia?
[Eu, gritando] JULI, MIA, POR FAVOR! JULI!
[Minha mãe] Tallyta, liga pra Seu Feitosa. Ele tem um chaveiro de confiança!
[Minha sobrinha] Tô sem crédito e sem bônus.
[Eu, aos berros] JULI, PELO AMOR DE DEUS, MIAAAA!
[Minha mãe] Nosso telefone está mudo.
[Eu, contendo as lágrimas] Ligue do meu! Ligue looogoooo!
[Oi] Você não tem crédito para completar essa chamada...
[Tim] Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens...
#Pânico! #Terror! #Aflição!
[Seu Feitosa] Chego já aí com o chaveiro!
#Umséculo... #Doisséculos... #Trêsseculos... Meio-dia!!!
[Chaveiro] Vocês têm autorização da dona para abrir a porta da varanda?
[Coro aflito] Temos!
[Minha mãe] A avó delas já ficou trancada aí e precisou pular nossa varanda também.
[Minha sobrinha] E as meninas são legais...
[Eu, contendo as lágrimas] Liguei, não atendeu. Mandei sms.
1º susto: o chaveiro abriu a fechadura com um arame.
2º susto: um ferrolho por dentro.
3º susto: com um ferro e a ajuda de um espelho puxou-se o ferrolho.
Pausa para mais pânico, mais terror e mais aflição: quer dizer que com um arame, um ferro e um espelho... qualquer um abre minha casa?
[Minha mãe] Chaneeee... Tallyta, chama ele!
[Seu Feitosa] Já estava cheirando mal assim antes?
[Chaveiro] Pelo fedor... deve ter morrido ontem.
Eu saio chorando pro meu quarto, zonza, tropeçando na escada, celular na mão, tento a agenda das últimas ligações. Sil atende.
[Eu, aos prantos] Sil, ele morreu!
[Noiva de Juliano] Quem é que está falando?
[Eu, aos prantos] Teu noivo morreu, Sil!
[Noiva e viúva] O quê? Meu Juli? Deus do céu! Vou aí! Chego já!
Tomo um calmante. Ligo pro veterinário, para a clínica, para a Sociedade Protetora dos Animais... Horário de almoço, só recado e recado e recado.
[Minha mãe chorando] Izabela, ele não saiu. Deve estar morto.
[Eu, aos gritos] Nãooooo!!! Juuuulliii, não!!!
[Minha sobrinha chorando] Tia, vamos procurar... Eu vou com a senhora.
[Eu, aos prantos] Eu não consiiiiiigooooo!
[Minha mãe se fazendo de durona] Izabela, os homens já foram. A gente tem que tirar o gato de lá para não apodrecer a casa alheia.
[Eu, aos gritos] Nãooooo!!! Eu quero Julianoooo vivoooo!!!
[Minha sobrinha chorando] Vó, deixa ela aí. A gente vai buscar ele.
Caleidoscópico de imagens. Marcelino, gordo e felpudo, nos meus braços. Morto. Papai chorando. Branquinha cavando a covinha para desenterrá-lo. Cheiro de morte.
[Minha sobrinha aos gritos] Tia, ele sumiu! Tá lá não, tia! Juliano fugiu!
[Eu, abestalhada] Juliano o quê? Sumiu como?
[Minha mãe já irritada] O fedor eram duas caixas. Ele fez xixi numa caixa de livros e cocô numa caixa de sapatos.
[Noiva liga] Paula, não vai dar pra ir aí agora. Não me liberaram...
[Eu, indignada] Sil, Juli fugiu.
[Noiva enganada] O quê? Como é que um gato foge depois de morto?
Explico a situação por telefone a Sil. Mamãe e Tallyta voltam para uma nova busca. Eu tomo mais água para não tomar outro calmante. Tiro o vestido, procuro um short, me preparar para também pular a varanda – assim quando forem prender a família buscapé levarão todos.
[Minha sobrinha aos gritos de longe] TIAAA!!! VOVÓ ACHOU!!! AQUI ELE!!!
Dor no meu coração. Juliano morto nos braços de Tallyta...
[Minha sobrinha chegando aos gritos] TÁ VIVOOO, TIA!!! JULI TÁ VIVO!!!
[Eu, correndo de calcinha e sutiã pela casa, portão da rua escancarado] VIVOOO???
Juliano esquelético, com a cara de lesado de sempre, o olhão azul esbugalhado, nos braços de Tallyta que voava em minha direção. Corrida ágil que demorou uma eternidade para me encontrar.
[Eu, totalmente descontrolada] Juli, pelo amor de Deus... Não faça isso de novo! Juli, não faça outra dessa nunca mais! Juli, você quer me matar?
Sentei no chão com Juliano nos braços, banhando a febre dele com minhas lágrimas. Chorei semanas, meses, anos, séculos de preocupação, de impotência, de desespero.
[Eu, chorando aliviada] Nunca mais apronte outra dessa, Juli! Foi a última, ouviu?
Sem noção do tempo, não sei quantos minutos demorei para perceber que seria a última mesmo se ele não fosse medicado. Quando me dei conta que o gato estava muito mal e precisava ser socorrido com urgência, recomeçou o frenesi. Liga pro táxi! Liga pro veterinário! Traz uma seringa com água filtrada! Traz a toalha dele! Cadê a carteirinha da clínica? Mamãe e Tallyta correndo de um lado pro outro.
[Eu, dando bronca e chorando] Juliano, se você aprontar outra dessas, você vai morrer lá! Tá ouvindo, seu cachorro? Ninguém vai buscar você de novo! Você acha engraçado arrombar as casas dos outros? Acha bonito? Você quer que eu vá pra cadeia por sua causa?


Diagnóstico: uma super-hiper-ultra-desidratação.
Medicação: antitérmico e vitaminas.
Castigo: ficar internado na clínica até o final da semana, tomando soro. 
Promessa: mamãe rezou um terço para as almas porque Juli escapou.
Moral da história: A curiosidade (quase) matou o gato!
Dúvida que não quer calar: FEBEM resolve?


| 2013 |


Paula Izabela

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