OS OUTROS


Quem dá mais por minha cabeça numa bandeja?
De isopor. De papel machê. De morangos.
Os outros. Sempre os outros...

Quem são os outros – pergunto eu.
Minha sombra que me persegue?
O porteiro que perdeu minhas chaves?
O chaveiro que me explora para fugir da miséria?
A mosca que arrisca coreografias no meu rosto?
A telefonista que não respeita minha privacidade?
Sempre os outros a me privarem da solidão.

Os outros me querem apedrejado.
Os outros me perseguem com mordaças.
Os outros a frearem minha corrida.
Os outros a me açoitarem com a língua.
Os outros a retirarem as máscaras depois de me
[conquistarem.

Alçapões a espera do meu passo em falso.
Sempre será assim pela vida afora...
Pela vida adentro a revolta!
Quem precisa mudar e se mudar sou eu!
Me mudar para onde não existam os outros...
Porque eles, o inferno de Sartre,
sempre serão o mistério, o susto, a decepção, a dor!

Os outros também serei eu?
Eu e meu suor vendido...
Eu e meu inferno astral...
Eu e meu carinho rejeitado...
Eu e minhas feras enjauladas...
Eu e minhas lágrimas represadas...
Eu também sou os outros.

Cansaço dos outros...
Cansaço de mim...
Cansaço de aço.
2009

2 comentários:

  1. "A mosca que arrisca coreografias no meu rosto?"

    Gostei disso!

    Pena o espetáculo durar apenas 3 dias...

    ResponderExcluir
  2. "Os outros também serei eu?
    Eu e meu suor vendido..."

    ResponderExcluir

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